Conhecer a demanda, suas variações por dia, hora, sazonalidade além do perfil de gravidade dos pacientes é passo fundamental para separar os fluxos de doentes mais graves dos menos graves buscando soluções que possam diminuir a superlotação, diminuir os tempos de espera para as primeiras intervenções propedêuticas e terapêuticas e consequentemente diminuir as filas. Estudar a demanda implica também em estudar os recursos do ponto de vista qualitativo e quantitativo para obter um equilíbrio entre a demanda e a capacidade de resposta e, conhecer e tratar as variabilidades artificiais.
O professor e matemático ucraniano Eugene Litvak, com formação também em engenharia de sistemas, estudou os fluxos hospitalares utilizando a teoria de filas. Litvak desenvolveu então a teoria da variabilidade, na qual propõe que os sistemas de serviços de saúde e seus processos trabalhem com variabilidades identificáveis e que estão no cerne da dificuldade das entregas de resultados.
Uma variabilidade é chamada de natural e ela ocorre por em função da natureza dos serviços que lidam com pacientes diferentes, médicos com características distintas e fluxos em alguns serviços (como é o da urgência por exemplo) imprevisíveis ou de difícil previsibilidade. A variabilidade natural exige dos gestores estratégias de gestão e ferramentas baseadas em estatísticas sofisticadas, como a própria teoria de filas, teoria de restrições entre outras já utilizadas em outras áreas do conhecimento humano. Sem essa sofisticação fica mais difícil a gestão de fluxos dentro de um serviço de urgência ou de um hospital. A variabilidade natural é randômica e pode ser bem gerenciada, mas é impossível de ser eliminada.
Outra variabilidade proposta por Litvak é a artificial, sendo esta, como o próprio nome indica, relacionada a fatores individuais das pessoas que executam o serviço. Ele propõe que esta variabilidade deva ser passível de eliminação. E, para eliminá-la é importante estudar e planejar a utilização mais racional, bem distribuída e com maximização da potencialidade de utilização dos recursos disponíveis.
Ao analisar os fluxos do departamento de urgência e do hospital usando essas estratégias e outras como o Lean, ferramentas de eliminação de desperdícios e aceleração de fluxos, é possível eficientizar, por exemplo, o giro de leitos dentro de um hospital, já que há uma correlação forte entre taxa de ocupação hospitalar e superlotação do serviço de urgência. Acima de 90% de taxa de ocupação hospitalar é quase certo que ficarão pacientes internados no serviço de urgência. A variabilidade artificial não é randômica e não deve ser gerenciada. Deve ser identificada e eliminada.
Entre os principais efeitos da variabilidade no fluxo em relação à segurança do paciente temos:
- Aumento de 2 a 4% no risco de mortalidade para cada exposição do paciente a um turno com escassez de pessoal;
- Aumento de até 500% na chance do paciente necessitar de readmissão;
- Dificuldade na gestão dos profissionais da assistência quando a equipe é submetida a excesso de trabalho – estresse;
- Tempos de espera prolongados;
- Aumento de infecções por erros médicos e aumento de procedimentos com não conformidades;
- Necessidade de envolvimento de equipes extras para agilizar as respostas.
Para os serviços e sistemas de saúde o sonho do mundo perfeito seria: que todos os pacientes tivessem a mesma doença, com mesmo nível de gravidade, que chegassem para ser atendidos no mesmo ritmo e que todos os profissionais fossem iguais na sua capacidade de prestar assistência.
Ao utilizar o modelo de entrada, passagem e saída dos pacientes pelo pronto socorro, podemos analisar cada fase separadamente, identificar os problemas de cada uma delas e sugerir possibilidades de transformação. Isto só ocorre quando os processos estão claramente definidos, suas etapas estão analisadas tendo como objetivo detectar esforços desnecessários, custos maiores e etapas que poderiam ser eliminadas porque não agregam valor para o cliente.
Esse tema é de extrema relevância e está apresentado de forma mais detalhada no curso GASU – Gestão Avançada em Serviços de Urgência, que pode ser acessado na plataforma:
https://www.redec.com.br/gasu/
Em breve discutiremos os problemas de passagem dos pacientes nos serviços de urgência. Fiquem atentos!!!
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Obrigada