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Os desafios da gestão hospitalar sob a influência das leis da física

Em uma época onde os Serviços de Urgência demandam verdadeira paciência, é vital entender os desafios que surgem, particularmente aqueles inesperadamente relacionados à física e à matemática. O campo da gestão hospitalar é fortemente influenciado por leis e teorias que regulam tudo, desde as filas de espera até a economia de escala.

“A tragédia é que grande parte do que você acha aleatório está sob seu controle, e o contrário também vale, o que é pior.”
– Nassim Taleb

 

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A Teoria das Filas e a Variabilidade

A teoria de filas, criada pelo dinamarquês Erlang, é uma ciência matemática que esclarece o comportamento das filas em serviços de saúde. No entanto, ao tentar otimizar essas filas, os gestores hospitalares se deparam com o fenômeno da variabilidade. Esta variabilidade é um dos principais obstáculos nos sistemas de saúde, onde pequenas flutuações podem causar gargalos significativos.

 

Lidando com a “Lei de Newton” dos Hospitais

Os gestores hospitalares devem lidar com uma espécie de “Lei de Newton” nos sistemas de saúde. Esta “lei” é o princípio de que a forma como os hospitais são projetados e estruturados influencia fortemente sua eficiência e eficácia. Como demonstrado em um estudo de Freeman, Savva e Scholtes em 2019, os hospitais têm que lidar com a inter-relação de atendimentos eletivos e emergenciais, competindo pelos mesmos recursos. Isto é análogo à terceira lei de Newton – para cada ação, há uma reação igual e oposta. Assim, alocar mais recursos para atendimentos previsíveis pode, inadvertidamente, aumentar os custos de tratamentos de emergência.

 

A Importância da Escala e Escopo

A física nos ensina que tudo está inter-relacionado. Na gestão hospitalar, a escala e o escopo dos serviços desempenham um papel crucial na eficiência do hospital. Hospitais com maior diversificação e volume de serviços tendem a ter melhores desempenhos econômicos e clínicos, desde que estejam alinhados às necessidades da comunidade.

 

Gestão de Fluxos e a Relação Capacidade/Demanda

Para garantir a eficiência, os hospitais devem focar em medir e ajustar a demanda e a capacidade do seu serviço. No mundo ideal, estes dois fatores estariam em perfeito equilíbrio. No entanto, nos serviços de saúde, eles frequentemente estão desalinhados. Para trazer equilíbrio, os gestores precisam estar cientes das variações na demanda, seja por mudanças sazonais, climáticas ou sociais, e ajustar a oferta de serviços de acordo.

Além de conhecer a demanda, é necessário conhecer também a capacidade de atendimento. Para isso é necessário medir e planificar as atividades envolvidas no atendimento, através do mapeamento de fluxo de valor do paciente.

 

Relação de demanda e capacidade num atendimento de triagem (Fonte: Wellflow)

 

Perfil de Risco e tempo de execução médio num sistema de triagem (Fonte: Wellflow)

 

Mapa de Fluxo de Valor (VSM) de pacientes que passam por um Pronto Socorro e têm alta para casa. (Fonte Wellflow)

 

A capacidade deve superar a demanda para evitar filas e problemas. O desafio é identificar se a capacidade é insuficiente devido a problemas estruturais ou de processos.

 

Variabilidades: Onde a Física Encontra a Realidade

Em qualquer sistema, as variabilidades são inevitáveis. Na saúde, essas variabilidades podem ser naturais ou artificiais. As naturais, como diferentes pacientes e profissionais, podem ser gerenciadas e minimizadas através de técnicas e ferramentas apropriadas. As artificiais, no entanto, como agendamentos mal planejados e falhas de comunicação, são imprevisíveis e exigem soluções proativas.

 

hopkinsCommand Center do Hospital Johns Hopkins

 

A variabilidade exige que os Serviços de Saúde monitorem fluxos e centralizem informações. Hospitais adotando essa gestão de fluxos devem intensificar a comunicação entre setores e centralizar a gestão de entradas, altas e leitos. O estabelecimento de setores como o Núcleo Interno de Regulação é essencial para a gestão em tempo real. A gestão local, em áreas como o Pronto Socorro, aprofunda essa abordagem até que se atinja um Centro de Comando monitorando os fluxos hospitalares. Processos de Governança, como políticas de alta, estão ligados a esses resultados.

O desperdício em estruturas hospitalares, evidenciado por publicações como do Banco Mundial que utilizaram Análise Envoltória de Dados (DEA), é um problema reconhecido. A solução envolve adaptar estruturas existentes às regiões, modernizar a governança e implementar novos modelos de remuneração. Não se trata de uma solução simples; problemas complexos requerem respostas multifatoriais. Tanto no setor público quanto no privado, o desafio é semelhante. Para ampliar o acesso a serviços hospitalares de qualidade, é necessário reconfigurar o Sistema de Serviços de Saúde, exigindo conhecimento e decisões acertadas.

 

Referência Bibliográfica

Cordeiro Junior, W. (2023, 5 de setembro). “Porquê você tem cada vez mais dificuldades na Gestão do seu Hospital? As leis da física que te atrapalham!” LinkedIn. https://www.linkedin.com/pulse/porqu%C3%AA-voc%C3%AA-tem-cada-vez-mais-dificuldades-na-gest%C3%A3o-cordeiro-junior/



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